A ENTREVISTA Uma pequena porta seguida de um pequeno ambiente decorado com plantas e luzes veremelhas seguida de duas paredes brancas. Essas paredes brancas queriam se encontrar mas eram mantidas separadas por nada. Apenas pelo ar. Olhando para a porta estava a sala de espera. Com cinco esperandos e uma secretária. Sentada confortável em sua mesa. Avaliando e anotando o rosto e os jeitos de cada um dos futuros entrevistados. _ Fernandes, Robson Fernandes! Gritou a secretária ao mesmo instante que do canto vermelho surgiu um homem cabisbaixo. Robson sabia que era sua vez, então levantou e foi destemido. Antes de ele abrir a porta, a secretária disse qualquer coisa irrelevante. Nem ouviu, o seu destino já estava traçado: a porta. _ Oi, tudo bem? Sente-se por favor. -- disse o entrevistador. _ Olá! -- respondeu, encontrando seu traseiro à cadeira. _ Como você já deve saber, somos uma empresa de desenvolvimento de software. Nós desenvolvemos software para automação de sistemas de controle de fluxo de gasodutos e oleodutos e viadutos e -- o entrevistado falava, enquanto Robson divagava. O que será que eu tenho que dizer para ser aceito? O que é relevante? Pareça interessado! Pareça interessado! Serei aceito? Tinha gente que parecia tão mais interessante que eu naquela sala de espera... Como aquele sujeito barbudo. Seria legal se chegasse uma mulher aqui correndo: Bomba no prédio! Então todos nós teríamos que sair, mas no meio do caminho acontece a explosão. Ficamos todos presos; eu teria que tentar salvar a mim e a essa jovem e atraente... _ E a maior parte de nossos sistemas é feito em Python. -- o fim da frase interrompeu Robson. _ Muito interessante. Isso parece muito legal! _ Você já fez algum sistema desse tipo? _ Não! Não! Nunca fiz! _ Então seria a primeira vez que você faz um programa de computador? -- sorriu como um guarda-chuva que, quando se aperta o botão, se abre e a gente não tem controle -- Não é problema, nós iremos ensinar tudo que precisa. _ Bem, eu, uma vez, já fiz um ou dois programinhas Python. Só por curiosidade, sabe? -- talvez não tenha pensado direito antes de falar. _ Certo. -- o guarda-chuva é retrátil -- Quantos programas foram, então? Um ou dois? _ Bem, eu fiz um ``hello world'' e depois eu fiz um que lê números da entrada padrão e retorna uma conta com eles. _ Uma calculadora completa?! _ Não! Só somava os números. _ E você fez isso num editor de texto, salvou o arquivo e tudo? _ Não. Eu fiz no interpretador interativo mesmo. Só para testar, sabe? Só para ter uma ideia de como é a linguagem. _ Ok. Tudo bem. Entendi. Acho que já tenho tudo que preciso. -- anotou qualquer coisa que se anota nessas situações -- Entraremos em contato com você quando necessário. _ Você tem meu celular, né? 998 -- _ Tenho sim. Está anotado aqui. _ Tudo bem, então. Me liga, tá? Tchau. _ Tchau tchau. A luz vermelha piscou quando Robson saiu da pequena porta. Tudo que ele conseguiu ouvir foi a secretária terminando a frase: _ ...allman. Um sujeito barbudo passou rápido, com um olhar sereno. Respondeu ``tudo bem'' à secretária que informou: _ O sr. Waltazar está esperando por você. O sujeito entrou na sala como se dominasse o lugar. Puxou a cadeira, virou-a e sentou-se, encontrando sua barriga ao encosto. Antes das palavras chegarem à boca de Waltazar, o barbudo fala: _ Oi Waltazar. Tudo bem com você? _ Oi. Nós somos uma empresa de desenvolvimento de software -- _ Eu sei. Sistemas de automação. Gasodutos, etc. Eu entendo que vocês precisam de alguém para fazer uma DSL para o controle dos fluxos. _ É, er -- disse com um sorriso irônico -- você parece já ter pesquisado bem sobre o trabalho aqui, né? Você tem alguma experiência? _ Eu fiz um compilador C, o GCC. _ E você tem coragem de vir aqui com esse terninho e gravata? -- disse um assustado Waltazar. _ Olha, meu negócio é mais um freelance. _ Por esta porta, por favor. -- disse Waltazar levando-o para uma pequena porta escondida no fundo da sala.