Gandhi conversa com Jaime no mundo do amanhã Gandhi, trajando terno social, tocou o interfone de uma oficina. Ficou esperando alguem abrir um grande portão azul. Acima do portão há um letreiro onde pode-se ler "Oficina do Jaime". A aparencia do local é bastante simples. As paredes são brancas, com marcas negras de fuligem e óleo. A única porta para o acesso de pessoas faz parte do próprio portão. Alguns instantes após o toque do intefone, há barulho de chaves. Esse é o barulho que abre a portinha do portão, que revela Jaime, que é recebido por Gandhi: _ Olá Jaime. Como vai o senhor? Meu carro já ficou pronto? _ Oi Gandhi. Olha, seu carro não ficou pronto ainda não. Hoje é o dia da República. Estou meio... Eu vou lá no desfile dos praças brasileiros hoje. _ Ah! Você lutou na segunda guerra mundial? Não tinha me dito isso. -- disse Gandhi com uma feição levemente contrariada. _ É, lutei sim. Foi lá que eu fiquei com esse problema no meu ouvido direito. Problema não, surdez mesmo. -- disse Jaime estalando os dedos perto do ouvido, como que só para ter certeza do que dizia. _ Não sabia. Você tem sido meu mecânico por tanto tempo, mas nunca me contou sobre isso. -- disse franzindo a testa, coçando a cabeça e mordendo levemente os lábios. _ É. Eu sempre acabo falando mais de mecânica, né? Mas lutei lá. Foi muito difícil, mas eu tenho muito orgulho de ter ajudado a vencer a guerra. Acho que foi um dos meus maiores feitos em vida. Pena ter custado boa parte da minha juventude. A gente sempre sonha em visitar a Europa, mas nunca daquele jeito... _ Então você irá desfilar hoje para comemorar a guerra? -- perguntou com olhar fixo e treinado. Tom levemente irônico, nada que um Jaime pudesse chegar a notar. _ È, vou desfilar hoje para comemorar nossa vitória, nossos feitos, conquistas. -- respondeu sem medo da simplicidade -- Relembrar também da nossa juventude, nossa vida. A minha vida. A farda já está passadinha. Estou saindo daqui a pouquinho para o desfile. Gandhi hesitou por um instante. Limpou a garganta, pensou em um tanto de coisa para falar. Inspirou o ar e -- de repente -- o olhar fixo deu lugar a um olhar panorâmico. Ele foi capaz de ver toda a parede da oficina, a rua e os carros que passavam. Tudo que ele havia pensado durante este parágrafo não valia de mais nada: _ Meus parabéns, Jaime. Parabéns pelas suas conquistas. Parabéns por ter ajudado seu país. -- disse estendendo a mão ao mecânico, que não hesitou ao cumprimentá-lo em retorno. _ Obrigado. Isso significa muito para mim, especialmente vindo de alguém como você. Agora deixa eu terminar de me arrumar aqui. Nem vou abrir a oficina hoje. Você me pegou no pulo -- diz com um sorriso no rosto --, se tivesse chegado quinze minutos mais tarde não tinha encontrado ninguém aqui. _ Boa cerimonia para você, meu amigo. Amanhã estarei aqui denovo para mais um papo e, quem sabe, pegar meu carro. _ Amanhã eu termino seu carro sim. Mas agora vou acabar de me arrumar. Vê se aparece lá no desfile! _ Claro! Até a próxima. -- diz enquanto abraça Jaime em despedida. Gandhi apareceu no desfile, mas não ficou muito tempo.