Ontem eu assisti ao primeiro filme de planeta dos macacos. Primeira vez em anos. Relembrei de uma curiosidade que já me atiçou antes: será que os macacos são inteligentes, mas não damos os devidos créditos? Como hoje me sinto mais intelectual do que era quando vi o filme pela primeira vez, resolvi estudar o caso. Bloco de notas caneta em mãos, fui ao zoológico de Belo Horizonte.
Examinei as celas. Para cada símio anotei um nome inventado e seus sinais físicos peculiares. Com isso eu pretendia identificar todos eles. Isso me permitirá, pensei, perceber os traços de personalidade de cada indivíduo. Será que cada macaco é único? Será que eles sabem disso? Eram perguntas que eu pretendia responder.
Depois de uma hora de observação, notei que um dos animais era diferente. Ele ficava mais quieto em sua cela. Olhava para mim como se soubesse o que eu estava aprontando. Aproximei-me.
Para minha surpresa esse macaco fez um gesto indicando que queria meu bloco de notas. Perguntei com os olhos, dedos e boca: você quer isso? Ele balançou a cabeça afirmativamente. Senti um calafrio subindo meu corpo. Dei a ele meu bloco e minha caneta.
Ele se prontificou a escrever tão cedo quanto possível. A cada traço que dava eu me mordia de ansiedade: o que ele está escrevendo? Será um texto? Uma pegunta? Ele sabe português? Após cinco minutos de espera, ele me devolveu o bloco. Teve o cuidado de mantê-lo virado para si enquanto me entregava. Não consegui dar uma espiadinha sequer antes da hora. Ele me olhava nos olhos e eu, aflito, correspondia. Só desviei o olhar quando chegou o momento de ler o papel. Respirei fundo e virei o bloco.
Um enorme pênis de macaco. Esse foi o desenho que ele fez. Nada escrito. Nada de português. Nada além de um grande e mal desenhado pênis. Olhei no fundo dos olhos do bicho, que me encarava de volta. Ele abriu um sorriso e começou a pular e gritar, feito macacos fazem. Batia nas grades e balançava daqui para lá, como todos os outros. Acho que estávamos certos o tempo todo: macaco é mesmo um bicho estupido.