Conheci na piscina uma menina que batia na água com uma boia espaguete. Colocava naquilo toda sua força. Aproximei-me e perguntei com ar de graça: “bates na invisível tristeza da miséria tropical?”.
“Bato no 7”, respondeu-me.
Continuei minha brincadeira: “Em minha época pintava-se o 7.”. A menina não respondeu. Continuei a conversa por conta própria: “O que o 7 fez para você, mocinha?”
“O 7 é malvado. Ele me diz coisas ruins.”, olhos fixos na água.
“Você ainda está muito novinha para conhecer o que é mau e o que é bom. O que ele fala para você?”
“Diz para eu bater nele!”, nesse momento ela ficou vermelha. Estourou de raiva. Dava para ver a fumaça saindo pela cabeça. Descontou tudo ná piscina.
“Você o obedece?” perguntei. A menina começou a gritar. A mãe, agitada, veio correndo. Abraçou a criança. “Calma, filha. Está tudo bem. Quem é esse? O 7?”. A criança não dizia nada, apenas soluçava. A mãe me olhou e esbravejou: “Você não tem vergonha, não?! Um homem velho desses! Pare de amolar minha filha! Você nem existe!”
Assustado, quem acabou preocupado fui eu. Como assim não existo? Quem sou eu, então? Voltei para casa alarmado. Abri a geladeira e de lá tirei pinga. Virei à goladas. Vovó Betânia já dizia: “não há cabeça quente que uma cachaça gelada não esfrie.” Ela estava certa.
Dancei, despreocupado, a sinfonia número 11. Não sei se é possível dançar isso. Parece que não, porque eu cai. No chão fiquei. O teto vi. Rodopiando e dançando; enquanto eu lambia o tampo da mesa de centro. onze 11 e dois 3. Todos coloridos. Todos saborosos. Tutti frutti. Desatei a gritar como se fosse sexta-feira 13. Após duas horas de grito, um par de brutamontes se convidaram abruptamente pela porta da frente. KADABLUM! Arrombaram! Antes que eu os oferecesse um chá, amanheceram-me num leito de hospital.
Era manhã, quando acordei na enfermaria. Exigiram-me o plano. Eu não tinha plano ou saúde, então me expulsaram pela porta dos fundos para não dar ideia fraca.
Neste mundo doido, voltei a encontrar Olívia. Para quem não sabe, essa é a menina da piscina. Parecia um ano mais velha, mas ainda se lembrava de mim. Apresentou-me à bela 8, que já estava grávida quando casamos. Isso não atrapalhou a festa! O quintal da menina Olívia estava todo enfeitado e a mãe dela estava lá. O pai também. O cachorro. O irmão. Estavam todos felizes com nosso casamento. Dona 8 estava radiante. No fim do casório ela deu a luz a um par de gêmeos: dois unzinhos. Ela virou um belo 7 colorido. Um 7! Fiquei alarmado!
“Vai dá tudo certo” disse Olívia. Não sei se acredito. Por que casamos tão rápido? “Porque assim foi. Todo 7 é 7, mas nem todo 7 é igual.” respondeu a garota, que gosta de ler mente. Sensato. Assim como ela disse, foi.
Eu não podia ficar nesse outro mundo para sempre. Meio que sem me despedir, voltamos à realidade. Graças a Deus! Voltamos a 7, os uns e eu.
As coisas andam bem com a gente. Ninguém mais teve desses surtos. A gente se preocupa um pouco com a cabeça de um dos gêmeos. Diz querer trabalhar em escritório. Ele é novo ainda; a gente acha que isso é fase.